As aparências enganam

Os olhos apagados miravam o espelho. Sua aparência era de um homem cansado, que apanhou muito da vida. A pele enrugada e suja era recoberta por uma barba espessa. Seus cabelos estavam desgrenhados, e sua roupa era puída. O reflexo mostrava o que restava daquele homem. Sua dignidade há muito havia sido deixada para trás. O que restava agora era o desespero, a fome, o cansaço. Passou a mão pelos cabelos, tentando arrumar os fios rebeldes, e deu um sorriso para seu reflexo. Um sorriso amarelo, daqueles que a gente dá quando tudo está ruim, mas precisamos sorrir.

Ao sair do banheiro, adentrou um quarto de casal. Observou a cama nova, a televisão de plasma, o rádio moderno que estava sobre a cômoda. O quarto era bem arrumado e impecavelmente limpo, o que causava um enorme contraste com aquele homem.

Passou pela sala e foi direto para a cozinha. Na mesa, havia pão, queijo, presunto, café, manteiga e bolo. Nas cadeiras estavam sentados uma mulher e seus filhos, que já comiam. Deu bom dia a todos, sentou-se e pegou um pouco de café. Comeu o pão com manteiga e a fatia de bolo que a mulher lhe ofereceu. O relógio do micro ondas mostrava as horas. Eram sete e meia da manhã. Terminada a refeição, a mulher se levantou para retirar os pratos da mesa, e as crianças foram para a sala. Ele removeu o relógio do pulso, e ela foi lavar a louça do café. Eles se olharam com ternura, e ela lhe desejou um bom dia de trabalho. Então, ele foi até a esposa e beijou-lhe os lábios. Foi até a sala, onde as crianças assistiam a um desenho que o tocador de blu-ray reproduzia na televisão de 52 polegadas. Beijou carinhosamente a testa de seus filhos, e saiu para mendigar.

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